UMA FAMÍLIA PERFEITA

 


UMA FAMÍLIA PERFEITA

 

Texto bíblico: Jó 1.1-5

¹ Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. ² E nasceram-lhe sete filhos e três filhas. ³ E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente. ⁴ E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles. ⁵ Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no  seu coração. Assim fazia Jó continuamente.

 

 

INTRODUÇÃO: A FAMÍLIA PERFEITA

“Uma família perfeita.” Será que isso é possível? É bem comum, quando conversamos sobre família, alguém dizer: “Ah, minha família não é perfeita, mas...”

Quando olhamos para nossas famílias e para nossas imperfeições, vamos facilmente concluir que não, que não existe família perfeita.

Mas hoje eu quero te mostrar exatamente o oposto. É possível, sim, ter uma família perfeita — aliás, uma perfeição urgente e necessária.

Para isso, é necessário que compreendamos o conceito bíblico de perfeição no que se refere aos seres humanos.

No hebraico, a palavra usada para “perfeição” em relação ao ser humano (e à família) é "תָּם" (tam). Essa palavra vem de uma raiz que transmite a ideia de completude, plenitude ou integridade. É um termo moral e espiritual, não apenas comportamental. Pode ser traduzida como: íntegro, irrepreensível, completo, sincero, pleno — e “perfeito”.

Essa palavra é usada em vários lugares no Antigo Testamento, como por exemplo em Gênesis 6.9, onde diz que Noé era homem justo e "תָּם" (tam) – íntegro, ou perfeito. Um outro exemplo é Gênesis 17.1, quando Deus diz a Abraão: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito ("תָּם" (tam))”.

Assim, o conceito de perfeição não é o entendimento equivocado da ausência de defeitos, mas sim o de inteireza, completude ou maturidade espiritual.

O Novo Testamento reforça essa ideia em Tiago 1.4, quando diz: “...para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”.

Dessa forma, quando falamos em uma família perfeita, não estamos falando de uma família sem conflitos ou problemas, mas de uma família com alicerces espirituais e relacionais firmes, moldados pela integridade, fé e temor a Deus.

Estamos vivendo um momento crítico na história humana, em que boa parte das famílias estão tóxicas, se desfazendo, se dispersando e se implodindo. Nesse contexto, é urgente resgatar o ideal bíblico de uma família perfeita — de uma família que seja íntegra, reta, temente a Deus, próspera, afetiva e saudável. Ou seja, é necessário e urgente que nossas famílias sejam perfeitas.

 

I. O CENÁRIO DA FAMÍLIA PERFEITA (Jó 1.1-5)

1. Contextualização histórica-teológica

Jó provavelmente viveu na época dos patriarcas (c. 2000–1800 a.C.). Alguns historiadores mais ousados sugerem que ele teria nascido por volta de 2027 a.C. Logo, Jó existiu antes do povo de Israel, antes da Lei e do Sacerdócio.

Além disso, ele era um gentio (não israelita), tal como seu possível contemporâneo Melquisedeque — o que significa que a revelação de Deus ultrapassa fronteiras étnicas e religiosas.

Jó não tinha uma Bíblia, um templo, nem o sacerdócio levítico — mas conhecia a Deus de forma íntima e pessoal. Isso nos ensina que a fé verdadeira independe da religião.

E é nesse contexto que surge a família de Jó. Uma família gentia, porém crente em Deus, cheia de bons atributos — enfim, uma família tam, perfeita.

 

2. Os pilares da família de Jó

Mas a família perfeita não é perfeita simplesmente por sua aparência, ou pelo que as pessoas acham dela. Há uma série de pilares que sustentam essa perfeição, e a família de Jó apresenta alguns desses pilares:

a) Retidão – (v.1) Jó era íntegro, reto, temente a Deus e se desviava do mal. Esse comportamento não nasce do nada, nem vem de berço. Essas atitudes são cultivadas, formadas por meio da prática constante, principalmente em casa, no seio da família.

b) Prosperidade – (v.3) Jó era o homem mais rico do oriente. Mas veja: a prosperidade dele era consequência, não prioridade. Hoje fala-se tanto em prosperidade, porém esta é colocada como prioridade, na lógica de que “se você crer ou fizer determinada coisa, será próspero” — levando as pessoas a buscarem a perfeição pelos motivos errados.

c) Comunhão familiar – (v.4) Os filhos celebravam juntos, um de cada vez. É interessante o autor ter incluído esse detalhe no texto: “um de cada vez”. Isso significa que aquela família não só praticava a comunhão como respeitava um ao outro. Os filhos de Jó se respeitavam e se aceitavam. Havia respeito, harmonia e presença.

d) Espiritualidade – (v.5) Jó era um intercessor. O sacerdote da casa. Ele oferecia sacrifícios pelos filhos. Os filhos, por sua vez, provavelmente participassem desses rituais, já que eram realizados por causa deles. E é bem provável que a mãe e as filhas também estivessem presentes.

Esse é o retrato de um pai que se importa com a alma dos seus filhos.

Quero aqui abrir um parêntesis para perguntar aos pais aqui presentes: Responda apenas para você mesmo: Quantas vezes você já levantou de madrugada para interceder pela sua casa, pela sua família, por seus filhos?

Jó nos ensina o caminho de uma família perfeita. Sua atitude de levantar de madrugada para interceder por seus filhos talvez seja um dos pilares mais importantes que mantinham aquela família de pé.

Quando você olha para sua casa, você consegue enxergar esses pilares? Retidão, prosperidade, comunhão, espiritualidade, integridade, presença, cuidado mútuo? A família perfeita não é aquela sem problemas, mas aquela que constrói valores sólidos.

 

II. QUANDO A ADVERSIDADE CHEGA (Jó 1.6–2.10)

 

1. O ataque do inimigo

Mas a cena muda. Jó entra em um cenário sombrio de prova e acusação. Satanás, o adversário, não pode suportar a retidão. Ele não ataca apenas Jó, mas a estrutura familiar que Jó representa.

João 10.10 se cumpre: Satanás “vem para matar, roubar e destruir”.

Tudo o que se parece com morte, perda e destruição é obra de satanás. Quando ele entra na vida e na família de Jó, a morte chega (os filhos), o roubo chega (os bens) e a destruição chega (a saúde, a estabilidade emocional).

 

2. Abalos nos pilares

a) A prosperidade se foi (roubo, fogo, vento).

b) A comunhão desaparece (os filhos morrem).

c) A saúde é atingida (feridas e sofrimento).

d) A fé e a retidão são postas à prova (os amigos insistem que Jó estava em pecado).

e) O relacionamento conjugal fica abalado (a esposa diz: “amaldiçoa teu Deus e morre”).

Nenhuma família está imune às tempestades. Mas o que sustenta a casa quando os ventos batem é o alicerce invisível da fé.

Jó, ao contrário das expectativas, não amaldiçoa Deus. Pelo contrário, ele tem a consciência de que “O Senhor deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).

Meu irmão, quando a adversidade chegar, quando o problema vier, quando a luta se mostrar amedrontadora, é preciso erguer os olhos e dizer: “Bendito seja o nome do Senhor”, e estar disposto a catar como Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas.” (Habacuque 3:17-19)

Uma família perfeita não é aquela onde sempre está tudo bem, mas aquela que, mesmo quando tudo está mal, é capaz de adorar ao Senhor com sinceridade de coração e permanecer na Sua presença.

 

III. A FORÇA VERDADEIRA DE UMA FAMÍLIA (Jó 19.25)

1. Não está nos bens nem na saúde

Todos esses podem ser abalados. Jó passou de homem mais rico do oriente a nada. Ele perdeu todos os seus bens. Além disso, sua saúde foi totalmente comprometida. E nós sabemos o quanto lutar contra uma enfermidade pode ser desgastante e doloroso tanto para o doente como para sua família.

 

2. Não está na perfeição do outro

O estado de dor que Jó estava experimentando requeria cuidado e muito amor. O que ele esperava de sua esposa era compreensão e afeto. Mas em determinado momento ela entra em desespero. Ela comete um erro, num momento em que não podia errar.

Mas a força de uma família perfeita não está em membros que não erram.

Até mesmo o desespero daquela mulher Jó fazia parte da família perfeita, quando ela, num momento de angústia e dor extremas, comete uma falha. Uma única falha em todo aquele processo doloroso.

E essa falha aparece na história não para condenar a esposa de Jó, mas para mostrar a sua humanidade — e para dizer que o seu erro não a tirou do plano redentor. Ela foi mantida e grandemente usada na reconstrução daquela casa.

Como sua família tem tratado aquele membro que erra?

Que, num momento de dor ou estresse, fala alguma palavra infeliz, profere alguma ofensa ou gera algum desapontamento?

Na família perfeita tem gente imperfeita. A começar por mim!

 

3. Está na fé em Jesus Cristo

Jó 19.25: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.”

A fé em Jesus é a força motriz da família. É por meio da fé que conseguimos suportar todas as crises e adversidades. É por meio da fé que somos capazes de perdoar, de curar e de restaurar.

Sua casa pode perder muitas coisas, mas não pode perder a fé. A fé é o elo que restaura, que reconstrói, que recomeça.

 

CONCLUSÃO: A FAMÍLIA PERFEITA É AQUELA QUE TEM JESUS

A história termina com restauração: Deus dá o dobro de tudo a Jó (Jó 42.10).

A família de Jó foi ferida, mas não destruída.

A família perfeita não é a que não sofre, mas a que permanece de pé depois da dor — por causa de Jesus.

A família perfeita é aquela que está em Cristo.

É aquela em que Jesus é o centro, que ama a Cristo, que obedece aos seus mandamentos, que se deleita na sua Palavra, que vive a sua Palavra, que não negocia valores, que reconhece seus pontos de fragilidade e que se permite ensinar e curar todos os dias pelo Espírito Santo.

 

E quando Jesus está no centro da família, tudo muda:

·         Há mais comunhão, porque o egoísmo cede lugar ao amor.

·         O perdão flui com mais naturalidade, porque lembramos que também fomos perdoados.

·         O respeito se fortalece, porque vemos o outro como alguém precioso aos olhos de Deus.

·         As decisões são guiadas pela sabedoria do alto.

·         Os conflitos não se tornam abismos, mas oportunidades de crescimento.

·         Há mais cuidado uns com os outros, mais paciência, mais graça e mais verdade.

·         A casa se torna um lugar de refúgio, de cura, de presença de Deus.

 

Jó termina sua história dizendo:

“Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5).

Como está o relacionamento da sua família com Deus? Vocês o conhecem de ouvir falar, ou os seus olhos o veem?

Hoje, o Espírito Santo está chamando você e sua casa para reconstruir esse altar.

Para que sua família conheça ao Senhor verdadeiramente — não apenas de ouvir, mas de andar com Ele todos os dias.

Venha como está. Mesmo ferido, decepcionado, cansado ou desacreditado.

Porque há um Redentor. E Ele vive.

E Ele quer se levantar, hoje, sobre a sua família — para restaurar, curar e conduzir vocês por um novo caminho.

Quando Jesus entra, tudo se transforma. Deixe Ele entrar.

 

E que Cristo, em sua infinita graça, nos abençoe sempre.

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