RENUNCIANDO À NOSSA PRÓPRIA VONTADE
RENUNCIANDO À
NOSSA PRÓPRIA VONTADE
“Em seu coração
o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos”
Introdução:
Vivemos em um mundo que
constantemente nos desafia a seguir nossos próprios interesses e desejos, a
ceder às tentações do momento e a buscar autossatisfação imediata. Desde muito
cedo, somos incentivados a expressar nossas vontades e a buscar a realização
pessoal, muitas vezes ignorando a vontade de Deus em nossas vidas. Estamos
acostumados a tomar decisões baseadas em nossos próprios critérios e a buscar
aquilo que nos traz conforto e prazer, evitando o que nos causa desconforto ou
dor.
No entanto, como seguidores de
Cristo, somos convocados a trilhar um caminho distinto, um caminho de submissão
e confiança na soberania divina.
O princípio da renúncia é, sem
dúvida, um dos mais desafiadores de se aplicar em nossa jornada rumo à
plenitude de vida que Deus planejou para nós. Dizer não a nós mesmos nem sempre
é uma tarefa fácil. Quando falamos em renunciar ao pecado, mesmo diante de toda
a complexidade dessa decisão, há em nós uma consciência aguçada de que o pecado
pode oferecer um prazer momentâneo, mas suas consequências são invariavelmente
danosas e, em alguns casos, até irreversíveis. Assim, ao renunciarmos ao
pecado, mesmo que inicialmente seja uma escolha difícil, com o passar do tempo,
podemos encontrar contentamento na decisão tomada, pois percebemos que essa
renúncia pode ter nos livrado de muitos males.
No entanto, o desafio se torna
ainda mais intrincado quando se trata de renunciar à nossa própria vontade.
Isso porque nem sempre nossos desejos são intrinsecamente pecaminosos. Nem
sempre aquilo que desejamos é considerado como pecado. Renunciar a algo que, à
primeira vista, não é moralmente errado pode gerar um desconforto maior, tanto
no momento da renúncia quanto posteriormente, quando, por vezes, nos
encontramos lamentando não ter "aproveitado a oportunidade".
Como, então, podemos
verdadeiramente renunciar à nossa própria vontade? Quais são os passos práticos
para aplicar esse princípio em nossa vida diária, enquanto confiamos na
soberania de Deus sobre nossas vidas?
I – Pecado e Embaraço –
Hebreus 12.1
Portanto nós também, pois
que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o
embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a
carreira que nos está proposta,
Para compreendermos o princípio
da renúncia à nossa própria vontade, precisamos primeiramente entender a
diferença entre pecado e embaraço. O pecado, como sabemos, é a transgressão da
vontade de Deus, uma ação contrária aos Seus mandamentos e princípios. Por
outro lado, o embaraço refere-se a obstáculos ou distrações que, embora não
sejam intrinsecamente pecaminosos, podem nos impedir de seguir plenamente a
vontade de Deus em nossas vidas.
É essencial discernir entre esses
dois conceitos, pois enquanto o pecado exige arrependimento e abandono
imediato, os embaraços podem ser mais sutis e exigir uma renúncia consciente e
deliberada.
Vivemos em um mundo repleto de
distrações e tentações que podem se tornar embaraços em nosso caminho
espiritual. Portanto, ao explorarmos a renúncia à nossa própria vontade,
devemos estar atentos não apenas ao pecado, mas também aos embaraços que podem
nos impedir de viver uma vida plenamente dedicada a Deus.
E o que exatamente são esses
embaraços? A Nova Versão Internacional (NVI) e a Nova Tradução na Linguagem
de Hoje (NTLH) traduzem o trecho "deixemos todo o embaraço" como
"livremo-nos de tudo o que nos atrapalha" ou "deixemos de lado
tudo o que nos atrapalha". Por sua vez, a Nova Versão Transformadora (NVT)
apresenta: "livremo-nos de todo peso que nos torna vagarosos". Em
outras palavras, embaraço é tudo aquilo que, mesmo não sendo pecado, nos
impede, de alguma forma, de avançar em nossa jornada cristã.
Na prática, um embaraço pode ser:
a) Ambição
Profissional Desmedida: Uma busca desenfreada por sucesso profissional pode
consumir nosso tempo e energia, levando-nos a negligenciar nosso relacionamento
com Deus e nosso serviço ao próximo.
b) Relacionamentos
Distrativos: Relacionamentos pessoais que nos levam para longe dos valores
e princípios cristãos podem se tornar embaraços em nossa jornada espiritual,
nos impedindo de viver em comunhão íntima com Deus.
c) Preocupações
Excessivas com Bens Materiais: A busca incessante por conforto material e
luxo pode nos distrair do propósito maior de nossa vida, fazendo com que
coloquemos nossa confiança e felicidade na riqueza material em vez de em Deus.
d) Vaidade
e Preocupação com a Aparência: Uma preocupação excessiva com a aparência
física e o desejo de ser admirado pelos outros pode nos distrair do
desenvolvimento de um caráter cristão sólido e da busca pela santidade.
e) Entretenimento
Excessivo: O consumo excessivo de entretenimento, seja por meio da
televisão, internet ou redes sociais, pode nos roubar tempo precioso que
poderíamos dedicar à comunhão com Deus e ao serviço aos outros.
f)
Perfeccionismo Desmedido: A busca
incessante pela perfeição em todas as áreas de nossas vidas pode nos levar à
ansiedade e à autocobrança excessiva, impedindo-nos de desfrutar da graça e da
paz que vêm de uma vida centrada em Deus.
g) Orgulho
e Autoconfiança: O excesso de confiança em nossas próprias habilidades e
conquistas pode nos impedir de reconhecer nossa dependência de Deus e nos levar
à arrogância espiritual.
Em resumo, embaraço consiste em tudo aquilo que, embora não seja uma
transgressão direta dos mandamentos de Deus, nos atrapalha ou nos impede de
avançar em nossa jornada espiritual. Estes são obstáculos que podem nos fazer
perder o foco em Deus, desviar-nos de nossa missão cristã e nos impedir de
alcançar a plenitude que Ele planejou para nós. Portanto, reconhecer e
renunciar aos embaraços é essencial para seguirmos adiante com fé e
perseverança na carreira que nos está proposta, como mencionado em Hebreus
12:1.
E como renunciar aos embaraços? Como
dizer não à nossa própria vontade e sim à vontade de Deus para nossas vidas?
II – O Caminho da Renúncia
Trilhar o caminho da submissão e
confiança em Deus é uma jornada de constante aprendizado e crescimento
espiritual. Para alcançá-lo, é fundamental mergulharmos em um relacionamento
íntimo com o Senhor, cultivando uma vida de oração fervorosa e dedicada ao
estudo da Palavra de Deus. Através da oração, nos conectamos com o coração de
Deus, compartilhando nossos anseios, preocupações e aspirações, enquanto
buscamos Sua orientação e direção. A Palavra de Deus é a nossa bússola,
iluminando o caminho que devemos seguir e nos revelando a natureza e os
propósitos do nosso Pai celestial.
Quanto mais nos aproximamos de
Deus e conhecemos Sua natureza amorosa e soberana, mais confiantes nos tornamos
em Seu cuidado e providência sobre nossas vidas. Reconhecemos que Ele é o autor
de nossas vidas e que Seus planos para nós são sempre bons e perfeitos. Essa
confiança se fortalece à medida que experimentamos Sua fidelidade em nossa jornada
espiritual, testemunhando Suas intervenções e provisões em momentos de
dificuldade e desafio.
No entanto, trilhar o caminho da
submissão e confiança também requer uma disposição constante de abrir mão do
controle e entregar nossos planos e desejos a Deus. Isso não implica em
passividade ou resignação diante da vida, mas sim em uma postura de humildade e
confiança, reconhecendo que os planos de Deus para nós são superiores aos
nossos próprios planos. Devemos estar dispostos a abandonar nossas próprias ambições
e perspectivas limitadas, abrindo espaço para que Deus opere em nossas vidas de
maneiras que nunca poderíamos imaginar.
Essa entrega diária não é fácil,
pois muitas vezes nossos planos estão enraizados em nossas próprias ambições e
desejos egoístas. No entanto, ao confiarmos nossas vidas totalmente a Deus, nos
abrimos para experimentar o Seu poder transformador e a Sua graça abundante.
Podemos descansar na certeza de que Ele está no controle de todas as coisas e
que Seu plano para nós é sempre o melhor, mesmo que não compreendamos
completamente seus desígnios no momento.
Para praticar a renúncia à nossa
própria vontade, é preciso seguir alguns passos básicos, porém fundamentais:
a) Estabelecer
um tempo diário dedicado à oração e ao estudo da Palavra. Reserve um
momento tranquilo todas as manhãs ou antes de dormir para se conectar com Deus
em oração, compartilhando seus anseios, agradecimentos e buscando Sua
orientação para o dia que se inicia ou que termina. Use esse tempo para meditar
nas Escrituras, permitindo que a Palavra de Deus penetre em seu coração e
fortaleça sua fé.
b) Praticar
a rendição diária de seus planos e desejos a Deus. Ao fazer seus planos
para o futuro, esteja aberto à vontade de Deus e disposto a ajustar seus planos
de acordo com Sua direção. Lembre-se de que, embora seja importante definir
metas e sonhar com o futuro, é essencial confiar que Deus tem o melhor plano
para você. Esteja preparado para abrir mão de seus próprios planos quando
sentir que Deus está chamando você para seguir uma direção diferente.
c) Cultivar
uma atitude de gratidão e contentamento em todas as circunstâncias.
Reconheça que Deus está no controle de todas as coisas e que tudo o que
acontece em sua vida está dentro de Seu plano soberano. Agradeça a Ele por Suas
bênçãos e confie que Ele está trabalhando todas as coisas para o seu bem, mesmo
nos momentos de dificuldade e desafio.
d) Praticar
a obediência em todas as áreas de sua vida. Esteja disposto a seguir Seus
mandamentos e a viver de acordo com os princípios da Sua Palavra, mesmo quando
isso for difícil ou contrário aos seus próprios desejos. Confie que obedecer a
Deus sempre trará mais paz, alegria e plenitude do que seguir seus próprios
caminhos.
e) Finalmente,
buscar a comunhão com outros cristãos, a fim de encontrar apoio e
encorajamento em nossa jornada de fé. Compartilhe suas lutas e vitórias com
outros crentes e ore uns pelos outros, fortalecendo-se mutuamente na fé e no
amor de Cristo.
Ao praticar esses princípios em
sua vida diária, você experimentará uma profunda transformação em sua relação
com Deus e descobrirá uma paz e plenitude que só podem ser encontradas ao
trilhar o caminho da submissão e confiança em nosso Deus soberano.
CONCLUSÃO
A decisão de renunciar à nossa
própria vontade e nos submeter à vontade soberana de Deus é uma das escolhas
mais significativas e transformadoras que podemos fazer em nossas vidas. Embora
possa parecer desafiador e até mesmo assustador abandonar o controle e confiar
plenamente em Deus, precisamos crer que o Senhor é fiel e digno de nossa
confiança.
Ao escolhermos seguir os passos
de Cristo e tomar diariamente nossa cruz, somos convidados a uma jornada de
renúncia e entrega total a Deus. Esta não é uma jornada de autopunição ou
negação de nossos desejos mais profundos, mas sim uma jornada de liberdade
genuína e plenitude espiritual encontrada somente em Cristo.
Quando nos rendemos à vontade de
Deus, abrimos espaço para que Ele opere em nossas vidas de maneiras que jamais
poderíamos imaginar. Ele nos conduzirá por caminhos de paz, alegria e
realização, guiando-nos em direção ao propósito e à vida abundante que Ele
planejou para nós desde o princípio dos tempos.
Portanto, não temam a renúncia,
mas sim a abracem-na com coragem e fé. Deixem que a chama do Espírito Santo
queima dentro de vocês, capacitando-os a viver uma vida de verdadeira submissão
e confiança em Deus.
Que cada um de nós possa se
comprometer hoje a renunciar à nossa própria vontade e seguir os caminhos do
Senhor com ousadia e determinação. Que Ele nos guie, nos fortaleça e nos
capacite a vivermos como verdadeiros discípulos de Cristo, impactando o mundo
ao nosso redor com o amor e a graça de Deus.
Então, neste momento, enquanto
nossos corações estão inclinados para Ele, oremos juntos, pedindo a Deus a
graça e a força para renunciarmos à nossa própria vontade e nos entregarmos
completamente a Ele.
E que Cristo, em sua infinita
graça, nos abençoe sempre!
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